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Leste Europeu

Reino de Tara Românesca

Tara, Palácio Danesti

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Terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

07:48

O décimo-oitavo rei de Tara Românesca, Theodoros Ioannis Coburg-Danesti – e mais uns outros dez nomes do meio que nem ele mesmo se lembrava – já estava de banho tomado quando o seu camareiro bateu na porta e entrou nos Aposentos do Rei, carregando seu terno passado.

— Bom dia, Vossa Majestade. Está um dia lindo. — Georges colocou o terno na cama e estendeu a camisa imaculada para Theodoros.

Ao invés de dar um bom dia educado, ou pelo menos uma resposta adequada à alegre saudação de seu criado particular, Theodoros apenas resmungou. Seu mau humor o impedia de apreciar amenidades – ou mesmo o dia lindo lá fora. Mais ainda, Theodoros tinha certeza que hoje seria igual a todos os outros dias do último ano: sem qualquer encanto ou novidade.

Ao menos, na opinião dele.

Pela manhã, ele iria para o seu escritório no palácio, refletiria sobre os problemas do reino e os resolvia. Depois de um almoço solitário e rápido, ele iria para escritórios do Banco Real de Tara e ganharia alguns milhões para si e para seus clientes.

Como sempre.

Estou cansado da minha vida perfeita.

Ele zombou do pensamento, ciente de que tinha mais do que muitos. Além de ser muito bonito e saudável, ele era rico como Croesus e bem-sucedido como poucos eram.

Depois de verificar que o seu reflexo no espelho estava vestido impecavelmente, Theodoros caminhou pelo corredor, entre as paredes adornadas com retratos de seus antecessores – a extremamente orgulhosa realeza de Tara Românesca. Desde o primeiro Grão-Príncipe, que havia sido um general famoso, até seu próprio pai, um playboy boa-vida que não fizera nada de importante durante todo o seu reinado a não ser elevar seu título para Rei e que morrera relativamente cedo quando Theodoros ainda não tinha onze anos de idade, eles estavam todos ali pendurados.

Ao final da esplêndida escadaria do palácio imponente, Theodoros acenou com a cabeça para duas empregadas, dois lacaios e para seu mordomo, Josias Milor.

— Bom dia, Vossa Majestade. 

Todas as manhãs, ele era recebido com o mesmo ritual e formalidade desfrutados desde que o primeiro Grão-Príncipe se estabelecera ali. 

Entrou na sala de café-da-manhã onde, como sempre, os jornais diários do reino – além de um resumo de todos os acontecimentos mais importantes do mundo – o aguardavam na bandeja de prata perfeitamente colocada em uma pequena mesa ao lado de sua cadeira. 

Um garçom silencioso serviu seu café-da-manhã prontamente.

Não havia necessidade de pedir nada.

Todas as suas vontades e desejos eram cuidadosamente antecipados por um time muito bem treinado, preparado para este fim, e eles eram todos supervisionados por seu mordomo, que trabalhava para os Coburg-Danesti desde antes do nascimento de Theodoros. Das roupas de cama e banho bordadas com suas iniciais e trocadas toda semana até o terno feito sob medida, com a recém passada camisa de algodão egípcio monogramada. Sem falar na torrada francesa, ovos mexidos e café fumegante que eram servidos em total silêncio, já que era sabido e notório que ele detestava conversas e barulho durante a manhã. 

Dia após dia, tudo corria na mais perfeita paz no Palácio Dasneti.

E toda essa perfeição rotineira o entediava até a morte.

Seu mordomo se aproximou com um telefone em uma bandeja de prata e anunciou em voz baixa: — A rainha-mãe. 

Com um suspiro resignado, Theodoros pegou o aparelho. — Bom dia, mãe.

Ele franziu o cenho quando Maressa Coburg-Danesti perguntou se lhe convinha almoçar com ela na Embaixada de Tara Românesca em Londres.

Como se ele pudesse cancelar sua aparição no Parlamento ou mesmo reagendar seus compromissos comerciais no banco para voar até Londres e almoçar de improviso com a mãe – e logo com quem! Revirando os olhos com o pedido absurdo, informou: — Sinto muito, não posso.

Enquanto ouvia a mãe divagando sobre as reuniões sociais e os amigos ingleses da realeza, ele revisou sua agenda do dia: primeiro faria o discurso para a cerimônia de abertura do Parlamento, antes do almoço visitaria o túmulo de sua falecida esposa, e depois teria as mesmas reuniões chatas, com os mesmos clientes. 

Na verdade, ele iria à Londres, bem mais tarde, para assistir ao casamento de um primo distante e proeminente empresário de Tara Românesca – sem dúvida, outro casamento monótono, com as mesmas pessoas sem graça e o mesmo cardápio sem sabor – e a rainha-mãe sabia disso, pois constava de sua agenda pública.

Quando ela lhe pediu para ele passar para tomar um drink com ela antes do casamento à noite, Theodoros disse: — Passarei aí rapidamente. 

Não que quisesse passar um minuto com ela, mas, enfim, ela era sua mãe e um mínimo de convivência eles deveriam ter – para o bem do reino. A fossa que havia entre eles era tão grande que nada poderia suplantar o vazio deixado pela completa falta de amor maternal.

Ele terminou o telefonema, desejando poder jogar o aparelho na parede, mas suas boas maneiras não permitiam. Ao invés disso, ele apenas apertou o botão de desligar e o colocou na mesa. 

O que eu preciso é de um novo desafio.

Surpreendentemente inteligente e talentoso no campo da gestão de ativos, na faculdade Theodoros fora classificado como um gênio na análise do mercado monetário mundial emergente e quando seu primo, Ivan Lieven-Danesti, o convidara para expandirem o banco que a família dele tinha há gerações, ele não titubeou.

Fazer malabarismo com números complexos de países politicamente conflituosos e em desenvolvimento lhe dava muito prazer e satisfação. Como um dos banqueiros de investimentos mais bem-sucedidos do mundo financeiro, sua experiência era muito procurada. E, como Tara Românesca era um país pequeno, ele equilibrava as duas coisas com bastante facilidade.

Quando ele provou do seu café e fez uma careta, seus olhos pousaram na parede esquerda, onde, entre outros, se encontrava um retrato de sua falecida esposa e prima, Irina von Lieven Coburg-Danesti.

O fato de sua mãe e de mais ninguém na família ter se lembrado de que hoje era o aniversário da morte de Irina o irritava profundamente.

O amor não havia sido o principal componente do casamento deles, já que a tendência de colocar os sentimentos acima da razão não era uma das características mais marcantes da personalidade de Theodoros. Mas ele e Irina tinham sido bons e leais amigos – o que ele valorizava acima de tudo – e eles desfrutaram de uma coexistência pacífica, além de uma boa química na cama. Sua morte trágica – um pescoço quebrado de uma queda a cavalo – tinha feito um estrago na sua rotina que só agora começava a se tecer lentamente de novo.

Theodoros dobrou o guardanapo e o colocou sobre a mesa, contemplando os vincos perfeitos, antes de se levantar e caminhar até a porta, que já estava sendo aberta por um lacaio. 

No corredor, ele parou. — Josias, por favor, informe ao comandante Smith que irei mais cedo para Londres. Cinco horas, ao invés de seis.

— Claro, senhor. 

Sim, definitivamente preciso de um novo desafio.

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Inglaterra, Grande Londres

Casa de Kurt Addington

 

08:47

— Feliz aniversário. — Kurt Addington puxou com força o lençol que cobria o carro e deu um passo para trás. 

Boquiaberta, Catarina Stephen circulou o Freelander usado que ela tinha visto em um leilão on-line há algumas semanas atrás e comentado com Kurt. Na época, seu melhor amigo e irmão adotivo dissera que era bobagem comprá-lo, mesmo sabendo que ela precisava repor seu velho Fusquinha que tinha dado o último suspiro há dois meses atrás.

— Obrigada, amei! — Catarina jogou-se sobre ele em um abraço emocionado, que ele devolveu, envolvendo-a em um abraço de urso. Loiro, forte, e com mais de um metro e noventa, Kurt era facilmente uns vinte centímetros mais alto que ela. 

— Não é nada, querida. Apenas roubei a sua própria ideia para poder te dar um bom presente este ano — admitiu ele com um sorriso.

Ela deu um passo para trás, e voltou-se para admirar o carro novamente. — Para mim é muito. Amei mesmo.

— Que bom. E tem uma outra bobagenzinha dentro.

Ela abriu a porta do carro e se inclinou para dentro para pegar uma caixa que estava no banco do passageiro. 

Pela tampa transparente, ela viu que era um bolo em formato de gatinha e escrito em glacê Feliz Aniversário, Cat, uma referência ao seu apelido em inglês que significava gata.

— Ah. Que fofo. Tenho certeza de que amarei cada mordida. — Ela sorriu e deu mais um abraço no irmão.

Emocionava Catarina que ele houvesse dedicado o seu tempo livre – e seu dinheiro, mesmo que ele não fosse pobre – para comprar aquele carro para ela. 

Não é que o carro fosse essencial para percorrer as lojas de artesanato e as feiras do interior do país, onde ela vendia seus colares e pulseiras artesanais nos fins de semana, mas facilitava e muito carregar maior quantidade de mostruário e também as suas ferramentas. 

Seu sonho era fabricar joias exclusivas e um dia ter uma pequena loja própria.

Ela se esforçava para pagar suas contas, ser independente e ainda guardar algum dinheiro, e mesmo que o trabalho pagasse bem, ela sabia que o sonho ainda estava longe de se concretizar, mais por causa da teimosia dela, do que pela falta de talento. 

Quando terminara a Escola de Joalheria de Birmingham, ela tivera várias ofertas de emprego, mas nenhuma tentou sua veia altamente criativa. Então, Catarina voltara para a casa dos pais adotivos e começara a trabalhar o mais que podia para uma empresa de catering de luxo, economizando cada centavo, com grandes esperanças de um futuro melhor. 

— Gostaria que pudéssemos sair e comemorar — disse Kurt.

— Eu também, mas não posso. Implorei por mais um turno extra. Não posso dizer que mudei de ideia agora. Além disso, acho que eles me deixaram fazer essas horas extras como presente de aniversário.

— Eu sei. — Kurt beijou sua bochecha. — Vou levar seu bolo para dentro e esperar que você volte para casa antes de roubar uma fatia. Agora vá, ou você vai se atrasar, querida. E vê se encontra um jovem simpático, rico e solteiro hoje à noite, hein?

Catarina riu e balançou a cabeça para ele.

Durante os meros sete anos em que morou com a mãe, Catarina testemunhou os muitos relacionamentos voláteis dela com uma longa lista de homens de todos os tipos. Na verdade, era mais sexo casual que relacionamentos. Felizmente, os homens a ignoravam, mas o fato de que quando eles estavam por perto fazia com que sua mãe não se lembrasse mais de sua existência havia deixado uma profunda marca em seu coração.

Ela sabia que não queria um homem para uma noite apenas ou para algo casual. Ela queria algo mais. No mínimo, comprometimento, responsabilidade, amor e respeito. Se paixão turbulenta e desejo louco entrassem na receita, seria perfeito.

Com exceção de alguns amigos e de seu irmão adotivo, todos os outros homens que Catarina conheceu a fizeram ser ainda mais cautelosa.

Quando a mãe morreu, a chorosa e confusa Catarina de apenas sete anos não conseguira entender por que a família de sua própria mãe não a levara para a casa deles e a deixara a encargos dos serviços sociais. Mas pior ainda, foi quando no enterro de sua mãe, sua avó disse que sua mera existência era uma vergonha e a evidência indiscreta da vida pecaminosa que sua mãe tinha levado.

Ela sabia que seu pai não a havia reconhecido porque era casado e que nunca tinha enviado um tostão para ajudar no seu sustento. Mesmo agora aos vinte e cinco anos de idade, ela ainda não conseguia entender aquela rejeição – afinal ela era a carne e o sangue deles – e somando-se à do pai, a mágoa profunda daquele abandono, sem nenhum arrependimento ou razão plausível, fez com que Catarina se tornasse ainda mais cautelosa com as amizades.

E mesmo assim, até se mudar para os Addington, aos catorze anos, a dócil e gentil Catarina viveu uma vida tumultuada, com constantes mudanças de abrigo e de lares adotivos, relacionamentos danosos e desfeitos e muita insegurança. 

Quando os pais de Kurt morreram, um após o outro no espaço de uma única semana, ele a convidou para continuar morando com ele e até ofereceu o que uma vez tinha sido aposentos dos criados no quintal para que ela tivesse mais privacidade, o que ela aceitou sem pestanejar. Após algumas reformas, o local se transformou em uma casinha de sala e quarto, com espaço suficiente para uma cama, uma poltrona com uma mesa lateral e uma mesa especial com várias mini-gavetas; onde ela guardava seus materiais e trabalhava suas joias, além de uma pequenina cozinha e banheiro.

Não querendo mais pensar sobre sua infância ou os tempos sofridos da juventude, Catarina entrou no banho e deixou a água morna limpar sua mente de tais memórias, se fixando nas coisas alegres da sua vida, como o presente de Kurt e o bolo delicioso que eles iriam comer juntos mais tarde.

Ainda assim, enquanto se vestia para ir para o trabalho, cantarolando uma música baixinho, sem avisar, uma sensação de falta se instalou em seu peito.

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Em algum lugar de Tara Românesca 

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12:15

No crepúsculo nebuloso do ópio, a dor em seu corpo diminuía, sua ansiedade se acalmava, e ela não conseguia mais ver os rostos de seus pais mortos ou ouvir os gritos de seus parentes e amigos feridos. Na verdade, enquanto ela perseguia o dragão, sua mente não era perturbada por sonhos. Ou pesadelos.

Perseguir o dragão era uma definição muito apropriada para descrever sua rotina, seu vício e sua vida de uma maneira geral. 

Com uma expiração cansada, ela olhou para a pintura lascada no teto do sótão. 

No passado, a fumaça sufocara a raiva em seu coração, mas agora sua necessidade de vingança dominava até o doce embalo do ópio.

Ela se levantou da cama umedecida pelo suor e foi ao banheiro tomar um banho. 

No espelho, estudou seu corpo nu. Cinco cicatrizes de feridas à bala crivavam a pele bronzeada de seu peito e colo; um lembrete constante da tentativa de assassinato de décadas atrás.

Apesar de tanto tempo ter se passado, ela se lembrava perfeitamente da ordem em que cada bala transpassara seu corpo, todas elas provenientes das pistolas dos soldados do reino de Tara Românesca.

Mas a vingança estava próxima. 

Então, depois que o inimigo fosse expulso, Tara Românesca seria restaurada às suas antigas tradições e glória e colocada nas mãos daqueles a quem a terra realmente pertencia.

A água fria lavou o suor de seu corpo, trazendo-a lentamente de volta à vida e trouxe com ela uma pontada de um desejo sinistro, enchendo suas entranhas, fazendo seus músculos cansados ​​tremerem. 

Não vai demorar muito mais tempo agora.

Uma vez limpo e vestido, seu reflexo não revelava nenhum indício da escuridão que se contorcia dentro dela. Com um forte aceno de cabeça, ela abandonou a ilusão de segurança de sua casa e saiu para a rua.

Ali, pendurado a seis metros de altura, diante dela, estava o dragão. Ele se contorcia e batia as asas para ela ameaçadoramente, como se o próprio tecido da bandeira conhecesse os desejos sombrios de sua mente.

Arreganhando os dentes diante do símbolo da realeza de Tara Românesca, toda a sua existência foi reduzida a um único pensamento: você é meu.

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Os próximos Aristocratas não vão demorar a entrar na sua vida!

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